Não conheceu bem a infeliz D. Leopoldina.
Tinha um ano e nove dias apenas quando - ao meio dia de 12 de dezembro de 1826 - o camarista João José de Andrade Pinto, abrindo um cortejo lúgubre, levou-o ao salão do Paço. Ali, num estrado, sobre uma colcha da China cor de pérola, vestida de gala com as suas grã-cruzes, mais bela na morte do que em vida, jazia, entre altos tocheiros, a Imperatriz do Brasil. Disseram-lhe para beijar a mão fria, que repousava sobre o peito inanimado. Uma por uma, as pequenas princesas repetiram, soluçando, a triste cerimônia; depois, em fila, silenciosa, abafando um cheiro vago, a corte passou, numa ronda de duendes, diante daquele leito suntuoso... O Imperador estava no Rio Grande, preparando a guerra aos platinos. Murmurava-se, que a arquiduquesa e soberana morrera desgostosa, com as complicações de um mau sucesso: dores antigas, a inadaptação aos costumes da terra, a petulância da comborça, o escândalo das imperiais bastardas, uma lancinante angústia, que a estrangulara em plena juventude! Saiu de noite o préstito fúnebre, à luz de archotes, lentamente, de S. Cristóvão para o convento d'Ajuda, pondo aqueles círios, no betume e na paz da Quinta de árvores gementes, clarões fantásticos, que não seriam mais esquecidos de D. Maria da Gloria, de D. Januaria... Ele não os viu. Quando começou a ter memória das comas, a mãe era D. Mariana de Verna, que, todavia, para manter a distância que há entre uma aia e o amo, lhe explicava: era a Dama. Nunca os seus lábios balbuciaram - Mãe. Ao tartamudear as primeiras palavras, disse: "Dadama". Assim ficou sendo, para ele, a branda D. Mariana. A sua "dadama", a que lhe dava a ilusão de não ter morrido a Imperatriz.