O rei filósofo: vida de D. Pedro II

As convulsões - da crise de dentição - sobrevieram em agosto. Três sumidades debruçaram-se, ansiosas, sobre a caminha, onde se debatia, num ataque epiléptico, aquele descendente de tantos reis enfermos. O susto foi geral; mas a saúde voltou. Voltou devagar. Em fins de 1827, o marquês de Barbacena o achou "magrinho e muito amarelo". D. Pedro I não podia dedicar-lhe uma atenção permanente: vivia a sua fase dramática, de política tempestuosa, de amores e rompimento, de sobressaltos e decepções. Em 16 de outubro de 1829 tudo mudou, na Quinta da Boa Vista. Havia nova senhora. Chegara D. Amelia de Leutchenberg, segunda imperatriz do Brasil, formosa e juvenil como num cromo, deitando a tudo os úmidos olhos negros, capaz de transformar - tal nos contos de fadas - espinheiros em rosas. A Ordem honorífica que, em comemoração disto, criou o Imperador - a da Rosa - valia por uma deliciosa promessa. Os corações e os países têm as suas primaveras. O áspero palácio, que D. João VI fizera burguês e grave, que D. Leopoldina quisera sossegado e acadêmico, arejou-se subitamente, com a alegria trepidante da menina que trazia nas veias o apaixonado sangue de Beauharnais. Jurou ser boa mãe dos enteados. Não arredaria a ótima Dadama, mas a auxiliaria com o seu transbordante carinho. Passara o Atlântico para espalhar felicidade...

Não lhe deixaram que morasse muito tempo ali. O chão tremia sob os pés. Sibilavam, nas velhas frondes da Quinta, os ventos de um temporal irresistível. Era a Revolução, que soprava.

Aos quatro anos, o menino recebeu de D. Mariana um presente que lhe custara - à santa preceptora - séria e laboriosa meditação. Abriu com as mãos

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