O rei filósofo: vida de D. Pedro II

orago, o robusto braço estendido, e o punho de arrieiro pousado sobre um livro: a Constituição... Os caminhos do poder, nos quais não cresce mato, passavam longe. Iam ter à casa dos senadores regentes, do brigadeiro Lima e Silva - o mesmo belo oficial que o apresentara, recém-nascido, à corte, e ajudara a depor D. Pedro I - dos ministros liberais que faziam garbo do seu republicanismo.

No Rio, em 1831, não se dava grande cousa pelo trono do sr. D. Pedro 2.°.

O burguês assinante do Jornal do Commercio não se surpreenderia se lesse na folha, em três linhas, ao pé do anúncio mercantil, a notícia de que o governo o mandara embora, com duas aias, devolvendo-o, pelo patacho de Lisboa, ao pai, exilado em Paris.

De resto, ninguém se surpreenderia de nada. O tempo era dos fatos inverossímeis.

A revolução fora total.

Os aristocratas do reinado extinto eram perseguidos; os velhos conspiradores agora dirigiam, manobrando a tropa indisciplinada, o barco do Estado. As quarteladas explodiam, como num chão vulcânico, erupções inevitáveis. As ideias absurdas circulavam. República, federação, desunião do Império, sistema grego de cidade, ou então a liga das repúblicas americanas, articulando um superorganismo utópico... Deliravam os deputados. Francisco Manuel compusera o hino nacional, que tinha as frescas harmonias de uma primavera, as arrogâncias marciais do povo em armas... Passava Evaristo da Veiga como um deus do verbo, guedelhudo, pensativo, seguido de muitos estudantes; o Mirabeau da assembleia. Ateara o incêndio, mas impedira que se alastrasse; a mão que derrubara a coroa correra a apanhá-la, medroso da anarquia...

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