Feijó era o Danton de sotaina: a face grosseira, como falquejada a machado, a testa baixa, o pescoço taurino, certo ar apostólico na energia irritada que lhe irradiava do olhar... Faltava Robespierre. Mais um homem como aqueles dois e a assembleia se transformaria em Convenção. Alguns suspiravam pela guilhotina. Sem sangue, não se concertaria a nação! Um grupo rosnava, que o monstro popular se aplacaria com a cabeça de uns barões. Os castigos terríveis talvez endireitassem o que nascera torto: a Independência conciliatória, a monarquia trajada à europeia, o lusitanismo de Pedro I, as influências secretas que o perderam, a miséria das finanças comidas, em partes iguais, pelo orçamento militar e pelo agiota de Londres. Mas, na hora decisiva, os que profetizavam o tribunal vermelho davam um pulo atrás e persignavam-se. Eram Marats teóricos, envenenados de literatura, que de manhã ouviam missa em casa e à noite conspiravam, na maçonaria. Apostavam todos, sim, que o clima imperial se esgotara. Apenas não sabiam como se libertar do menino. Nem concordavam, acerca das razões disto. O tumulto respeitava uma criança de seis anos, cuja orfandade desolada as matronas fluminenses espreitavam, com pena, através do portão da Quinta onde um velho miliciano dormitava, apoiado à baioneta.
Porque a república, se já existia de verdade, com a regência? Bolir na forma de governo seria soprar uma chama em paiol de pólvora. Além disso, as relações exteriores exigiam cautela. As potências, a "Kabinetpolitik", temiam os desvairos do novo Brasil, e o vigiavam. O imperador da Áustria demonstrara um interesse extemporâneo pelo neto, recomendando-o, com uma ternura nervosa, ao barão Daiser, seu ministro. A voz do sangue custara a fazer-se ouvir, neste