O rei filósofo: vida de D. Pedro II

O desgosto, o exílio, a idade, o horror das tropelias jacobinas por toda parte queimando os antigos ídolos, acenderam-lhe na alma fatigada uma indignação sagrada. Dez anos antes, seria capaz de proclamar a república, para apartar da metrópole o Brasil; agora se julgava indicado para restabelecer a realeza apostólica, contra os maçons, que desmembravam a nação que unificara... Entretanto, para isto lhe faltava a força, que não sabia aliciar, e a vontade, que já lhe esmorecia, nas vacilações da saúde precária e do espírito descrente. Conspirou, ingenuamente, com a guarda do palácio, e amargou a imprudência, numa dupla derrota: a de uma esporádica insurreição pretoriana, dispersada aos primeiros tiros, e a de um ostracismo definitivo.

Aziago ano de 1833!

A princesa D. Paula sempre fora doentinha. Já em 1829, para curar-lhe impaludismo e hepatite crônica, subira D. Pedro I a serra, veraneando em Corrêas, na fazenda vizinha do Córrego Seco, que comprou em 1830 (Petrópolis). Recaiu no princípio daquele ano. Tinha somente dez anos de idade. Nascera para sofrer, a "santa", como lhe chamavam, as criadas condoídas de sua resignação mais forte que a dor. Não resistiu a onze dias de febre rebelde; faleceu, nos braços de D. Mariana, em 16 de janeiro. Foi, para os irmãos, um abalo que custaram a esquecer, na desolação do palácio, subitamente, mais lúgubre, sem a menina que a todos encantava pelos modos sossegados. Sepultaram-lhe no convento de Santo Antonio o pequeno esquife vermelho.

José Bonifácio escreveu a D. Pedro I uma frase, lançada no final da carta chorosa das princesas: "Durum sed levius fit patientia..." O seu grave latim era mais eloquente do que um relatório. Como que adivinhava

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