O rei filósofo: vida de D. Pedro II

pu que vous sacrer d'une seconde majesté..." Abrindo um dia o jornal, leu aí a notícia, não da vinda, porém do falecimento do escritor. Logo depois, anunciava a folha o leilão de sua biblioteca, em Nice.

Chamou Motta Maia.

- Quanto pede custar tudo isto? - perguntou, falando do anúncio. Não era o Karr um erudito, nem um bibliófilo. Deve ser uma biblioteca escolhida e modesta. Quero adquiri-la.

O médico não pestanejou. Temeu sacudir os nervos doentes do Imperador, dizendo que qualquer despesa extraordinária comprometeria o rigoroso equilíbrio financeiro, a que estavam obrigados. Foi para Nice; arrematou, por oito mil francos, a livraria; e naturalmente porque outra não era a intenção do amo, ofereceu-a ali mesmo à viúva de Alphonse Karr. Esta escolheu uma coleção de obras de Santa Tereza de Jesus e mandou-a ao imperial benfeitor.

Decididamente - pensou Motta Maia - Sua Majestade se iludia, sobre as suas finanças. Devia falar-lhe com clareza, para que brandamente se ajustasse a elas. Não podiam gastar; tinham de recorrer a novas bolsas; havia o hotel... Enquanto se pensava em contrair um empréstimo - com Rothschild, Taunay, no Rio, procurava o conselheiro Dantas, para ver se conseguia um adiantamento no Banco do Brasil... Preparou o pequeno discurso; e disse-o, jeitosamente, num tom convincente, passeando os dous ao longo da costa, donde se via, cor de anil, o Mediterrâneo adormecido.

- Em conclusão...

- Em conclusão, senhor, é preciso que Vossa Majestade, ao menos por enquanto, ponha cobro à sua liberalidade, e não repita o que acaba de fazer...

D. Pedro II estacou:

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