O rei filósofo: vida de D. Pedro II

- É singular que ninguém mais se lembre de mim para me dirigir duas linhas. Esqueceram-me mais depressa do que eu esperava!...

Aborrecia-se. Arrastava um passo lento, digno, paciente, pelas alamedas doiradas de um sol tênue. Distraía-se com o estudo das línguas semitas. Mortificava-se numa leitura difícil, destinada a absorver a atenção, a cativar-lhe o pensamento, para que se não escapasse, indiscreto, a voar para longe. A solidão magoava-o.

"Tenho passado bem e estudado bastante", escrevia a Ferreira Viana, em 25 de março. E a 21, a seu dileto Taunay: "Muito obrigado por sua carta de 22 de fevereiro e o seu "Estudo Histórico". Já principiei a lê-lo. Para que não me pareça injusto o que diz de mim, enviar-lhe-ei brevemente a minha fé de ofício de Imperador do Brasil". "Vou bem de saúde e estudo bastante para mesmo de longe servir à nossa Pátria. Como vão os seus? Fale-me de Petrópolis..." Cedia à necessidade de falar. Preparava-se para comparecer diante de Deus.

Ditou a Motta Maia - dias depois - a Fé do Ofício do reinado.

Valia pelo manifesto, que silenciara: era um testamento, uma confissão, um desabafo(186). Nota do Autor Despido das metidas preocupações da vida, podia ser grandioso na humildade, verdadeiro, mesmo rude na sinceridade. Se endereçasse esse papel, não ao povo do Brasil, mas a seu velho mestre frei Pedro, que, do fundo de sua saudade, fixava nele os duros olhos de santo e sábio carmelita - trairia a mesma emoção. Retratava-se:

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