O rei filósofo: vida de D. Pedro II

De fato, a crise se extremara. De um lado o estadista ancião, com algumas dezenas de partidários que prometiam resguardá-lo, em S. Cristóvão, contra os jacobinos; do outro, o governo apoiado às forças da revolução liberal. A Chácara da Floresta era mais um símbolo do que um valhacouto. O ministro Aureliano formara o seu grupo de políticos, de 1831, ambiciosos e inteligentes. Temiam - e preveniam - dobrado golpe: retrógrado, militarista. Alimentavam a fogueira do nacionalismo intolerante. Açulavam o povo, contra tudo o que cheirasse a "antigo regímen". Pedro I foi o avantesma, o perigo comum, o execrável passado.

Adoecera o pequenino Imperador em 4 de outubro, de umas convulsões, que fizeram temer por sua vida. Restabeleceu-se; logo o 1.° batalhão da Guarda Nacional mandou celebrar missa de ação de graças, na matriz do Sacramento, em 3 de novembro. Pregou o maior orador sacro da cidade, Monte Alverne: "vós nos convenceis (disse, indicando D. Pedro II) que o Brasil está salvo; que o primogênito dos Brasileiros está vivo." E, aludindo à hipótese da morte do menino: "Quem seria capaz de combinar os elementos decompostos na cratera revolucionária? Não é só uma fiança de paz, que o Brasil possui no seu imperador. Ele é ainda o símbolo da unidade nacional, que seria posta em risco por uma adversidade tão deplorável. A perda do imperador, afrouxando todos os vínculos sociais, abria uma vasta arena a empresas temerárias..."(3). Nota do Autor

Os olhos azuis da criança convalescente abriam-se desmedidamente, a compreender os argumentos do frade, que fazia depender de sua pobre saúde a continuação

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