No começo o prognóstico era "muito grave" (testemunhou o cirurgião). Nos diabéticos, lesões assim costumavam ser fatais. Quase diria: salvara-se milagrosamente. Motta Maia estivera admirável.
Os longos dias em que, de perna estendida, houve de permanecer no quarto, com a mesa cheia de livros defronte, serviram-lhe para coordenar escritos, apressar o que destinava ao prelo, preparar-se, evidentemente, para o fim da jornada.
Em 27 de junho, numa carta ao visconde de Taunay, abria o coração.
"...Só tenho que lhe agradecer o que fez para a publicação de minha "Fé de Oficio". Ainda direi que me confessei perante a Nação. A posteridade me absolverá de meus erros, atendendo às intenções. Creia que lhe escrevo estas linhas com as lágrimas nos olhos. Tenho tanta fé em tudo que fiz e faço que, penso, seria mártir nos primeiros séculos do cristianismo. Não exagero. Aguardo impaciente o seu trabalho sobre Mato Grosso..."
Pela primeira vez, condoía-se de si mesmo.
Perpassava pelo seu silencioso sofrimento uma resignação de martírio... Como para desculpar a fraqueza:
"Estive bastantes dias, de cama por causa de um calo. Houve gangrena, mas graças ao meu já duas vezes salvador Motta Maia, não preciso cortar o pé esquerdo. Agora tudo vai bem. Mas sempre li e escrevi, o que é o meu consolo, longe da pátria como da afeição dos que querem ao seu, muito seu,
D. Pedro de Alcântara".
E para os filhos de seu médico, em 29 de junho, agradecendo parabéns que lhe davam: