O rei filósofo: vida de D. Pedro II

Os brasileiros exilados, ou adeptos da monarquia na Europa, exultaram. Acharam que as recentes instituições se diluíam: e pediam a D. Pedro II que fizesse das fraquezas forças, e corresse, a retomar o Império.

Esqueciam-se de que, para ele, a planta da ambição secara no clima estrangeiro, e havia, debruçado sobre a morte, que se avizinhava, um espírito limpo de cobiça.

D. Pedro I reconquistara Portugal: tinha 34 anos. Como empreenderia uma aventura, talvez nefasta ou inconsequente, na idade em que se ajustam, na terra, as contas do céu?... A Imperatriz, a quem daria uma grande felicidade a volta para Petrópolis, para a sua casa desfeita, a Quinta ensombrada de árvores mais antigas do que eles, jazia num caixão de chumbo, esperava-o nas cavas de S. Vicente de Fóra. A filha não perdoava, na sua sensibilidade de mulher, a decepção de 15 de novembro, depois da apoteose de 13 de maio. Quando lhe mandaram, do Rio, os seus móveis mais estimados, não pudera conter as lágrimas diante da rica mesa de Boulle em que assinara a "lei áurea". Mãos criminosas tinham-lhe arrombado as gavetas, torcendo os bronzes... Explodiu: Ladrões!

Corrigiu: Não, minha filha, não foram ladrões. E explicou, com a voz triste: Pensavam encontrar aí cartas comprometedoras, cartas de pedidos... Enganavam-se! Não as guardava, depois de atender às súplicas.

Gastão d'Orléans convencera-se de que lá não o queriam. Os netos, pequeninos, precisavam estudar... Não, não se meteria naquilo.

A Penedo e Silveira Martins, que lhe falavam do sacrifício da viagem, respondera: Não me chamaram!

As razões do seu antigo embaixador foram cálidas, torrenciais. Porém concordou, esquivando-se: - Sim.

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