ao pesado capote, com arrepios de frio. Deitou-se cedo.
Amanheceu com febre alta.
Motta Maia não se enganava.
Era a pneumonia!
Não poderia levantar-se no seu dia natalício, 2 de dezembro. A princesa fez que o padre David, colega do Imperador no Instituto, rezasse a santa missa no quarto de doente. Sessenta anos ouvira reboar a artilharia, naquela manhã festiva; agora, retiniam apenas as campainhas litúrgicas, e oficiava um sacerdote. Não recebeu as visitas, que encheram os corredores do hotel. Queimava-o a febre. Charcot e Bouchard subiram, de ar preocupado, as escadas do Bedford, em 3 de dezembro. Tomaram-lhe o pulso. Observaram-no, arquejante, prostrado, a face de marfim, mais branca, a barba desatada sobre o peito encovado. Retiraram-se, com Motta Maia. Estiveram, fora, um instante calados. Disse Charcot: "rien à faire..." Os outros assentiram, com um movimento de cabeça. A medicina capitulara.
O enfermo, ao entardecer do dia 4, perdeu lentamente a consciência do que em torno se passava. Duas janelas abertas para a tranquila rua coavam a claridade fosca de um dia de sol incerto, afundado na calma e na névoa do inverno parisiense. Não lhe deixavam a cabeceira Motta Maia, a princesa, o conde d'Eu. Fora chamado D. Pedro Augusto. Poucos amigos mais, perfaziam uma roda silenciosa. A indiferença, pelo que à volta ocorria, o abatimento, o gradual afastamento do espírito que se ausenta, precederam a agonia. Às dez horas entrou o cura da Madalena, o abade Le Rebours, paramentado, para ministrar ao príncipe moribundo os últimos sacramentos. Seus olhos reluziram. Recebeu com visível humildade