de boca desse teatro ostentava uma preciosa alegoria: portugueses a plantarem uma cruz, indígenas sentados sobre montes de frutas da terra, e no ar um anjo, com duas bandeiras, do Reino Unido e do Império... Aquilo resumia a história e as promessas do descobrimento, e dava às crianças uma ideia religiosa, da pátria e das origens. Uma ideia conciliatória: brancos, caboclos, proteção do céu e abundância do solo... Mas a falsidade das atitudes, o seu artifício, a melancolia da ordem conjectural, incutiam-lhes as primeiras lições erradas sobre a gente, as ilusões iniciais sobre o país, que lhes parecia tão afastado delas, cada vez mais longe, atrás das pontas de serra que rodeavam a Quinta... Que estudassem!
D. Januaria e D. Francisca tinham tempo: mas D. Pedro II não podia retardar-se.
Aos 18 anos assumiria o governo. Era um prazo certo; e pezadas as responsabilidades do probo Itanhaém, que às tardes, com um rosário pendente dos dedos finos, mergulhava entre as árvores do parque a sua grande preocupação. Confiara-lhe o Brasil o órfão: ordenara-lhe que fizesse dele um rei. Se saísse desastrado como o pai, não lhe perdoariam. Seria sempre, ele, o culpado, o desidioso, o imprevidente.
Nunca jardineiro mais obstinado zelou pelo desenvolvimento do seu arbusto, como o honesto Itanhaém pela formação do seu menino.
O caráter moldou-se-lhe então.
Seria, pelo resto da vida, sem jamais se permitir um descanso fora do seu programa diário, atado permanentemente à tirania de um relógio, um burocrata impecável.
Não conheceu a liberdade, senão como um direito dos outros; não lha deram nunca, para ser, alguma vez,