onde se sentava, para praticar a caligrafia, um príncipe de nove anos. No seu testamento, o imperador previra a hipótese, de lhe exilarem os três filhos. De um momento para outro, podia receber o marquês de Itanhaém um recado da regência, para que entregasse os pupilos à guarda de um capitão de navio, que os levasse para a desolada viuvez da imperatriz Amelia. Um juiz de paz fecharia, se vingasse algum motim de rua, o livro da monarquia cujo primeiro capítulo tão dramaticamente se encerrara. Não havia, de proteção às crianças, um vislumbre sequer de força, de organização vigilante, de dedicação palaciana. Tinham sido confiadas pelo destino à generosidade de um povo sentimental, que em vinte anos idolatrara avô, pai e neto... Levantando e descendo ídolos! D. Amelia não pedira em vão: "Mães brasileiras, vós que sois meigas e afagadoras... adotai o órfão coroado, dai-lhe todas um lugar na vossa família e no vosso coração!" Mistério de ternura popular, esse infortúnio despertou, por todo o país, um movimento de afeição suave pelo imperador infantil. Dir-se-ia que eram dous desamparados que se encontravam, o menino sem pais e o povo sem juízo, ambos aflitos na sua precoce emancipação, o Gigante e o Pequeno polegar, medindo-se numa alvoroçada esperança... Voltaria a ordem velha? Reconheceria o Brasil o futuro governo desse miúdo príncipe calado, que os comerciantes do porto viam, às tardes, na janela do Paço da Cidade, a cabeça loira pendida sobre o papel, a desenhar uma eterna paisagem?...
Por outro lado, o fim imprevisto do herói, que acabara em Queluz triunfante e magnânimo, depois de ter conquistado, de espada na mão, o reino da filha e da Carta - desanuviara o cão político, limpara-o das últimas tintas estrangeiras que o franjavam.