Esta pretensão deve, necessariamente, ser um viveiro fecundo de litígios e Deus queira que nisso apenas fique. A Casa do Conde da Ponte também dizia-se proprietária de muitas léguas de terras ao correr da margem oriental do Rio de S. Francisco e não deve admirar isto, porque bem perto desta cidade, na ilha de Itaparica, os sucessores da marquesa de Niza arrogavam-se o domínio da maior parte daquela ilha, estendendo arbitrariamente uma sesmaria, que lhe fora dada nos começos da fundação desta província pelo primeiro governador Tomé de Sousa" (1) Nota do Autor.
Como se vê, o fenômeno era o mesmo, que já assinalamos no Piauí . A distância das regiões, em que se fixavam as sesmarias, facilitava a indeterminação dos limites da concessão. Tornava-se livre a interpretação dessas fronteiras, quando faltavam indicações seguras a respeito delas. Somando-se a tudo isso o que devia representar, junto aos governos, o prestígio dos poderosos sesmeiros, teremos a explicação de todas essas ocorrências e da maneira como se formaram tais latifúndios.
O que singulariza, todavia, o episódio do Piauí não é tanto a existência de sesmarias fabulosas, com os acrescidos da influência política dos sesmeiros, mas o desfecho, ou a intenção do desfecho, dado ao prélio que os posseiros sustentaram, com exemplar tenacidade. Em regra, os prélios dessa espécie se decidiram a favor dos sesmeiros, por toda a parte onde os povoadores efetivos se esforçassem para obter o título de domínio, em terras que eles mesmos haviam descoberto, ou desbravado, defendido e arroteado. A máquina das sesmarias funcionava muito bem, na organização colonial, e não podia interessar-se pelos obscuros posseiros, quando via tão perto os magnatas, que enchiam as salas dos governos, ou exerciam