Desculpo as acusações menos justas e juízos infundados, de que por vezes fui alvo.
A todos ofereço minha boa vontade, em qualquer ponto a que o destino me leve. Com a mais profunda saudade e intenso pesar afasto-me deste país, ao qual devi, no lar doméstico ou nos trabalhos públicos, tantos dias felizes e momentos de imorredoura lembrança. Nestes sentimentos acompanham-me minha muito amada esposa e nossos tenros filhinhos que debulhados em lágrimas conosco empreendem hoje a viagem do exílio.
Praza a Deus que, mesmo de longe, ainda me seja dado ser em alguma cousa útil aos brasileiros e ao Brasil. — Bordo da canhoneira "Parnahyba", no ancoradouro da ilha Grande, em 17 de novembro de 1889 — Gastão de Orléans."
Muito judiciosamente observou Affonso Celso que — "esta carta de despedida do príncipe, na hora em que partia para o exílio, é nobre, bela, elevada, patenteia os peregrinos sentimentos de quem a traçou, em angustioso momento —."
Osório, o legendário Marquês do Herval, que não sabia dissimular seus sentimentos e de quem o Barão do Rio Branco disse que — "foi grande e ilustre pela bravura, pela lealdade e pelo patriotismo" —
emitiu, no banquete que lhe foi oferecido a 25 de maio de 1877, no salão do Cassino Fluminense (hoje Automóvel Club) os seguintes conceitos sobre o Conde d'Eu: — "Brindo o Sr. Conde d'Eu, meu companheiro d'armas, que sempre prodigalizou-me as maiores provas de consideração, brindo-o pelo seu valor, pela sua coragem e pela justiça com que administrou o Exército; brindo-o por que no Paraguai deu sempre provas de amar o Brasil e devotar-se d'alma ao seu serviço como os brasileiros que lá serviam. —"
A personalidade do Conde d'Eu pode apresentar aspectos sujeitos à crítica, mas em seu amplo conjunto merece a justiça da História, especialmente sob o altíssimo prisma de um grande servidor do Brasil.
Julho de 1935.
MAX FLEIUSS