EU, 12 de Setembro de 1917
Sr. Max Fleiuss
Sinto não ter podido, há meses, escrever-lhe.
O progresso da idade torna-me cada vez mais penoso pegar na pena, e, além do mais, dificulta-se-me as ocupações pelas idas a Boulogne-sur-Seine onde a estada, prolongada por meses no corrente ano, traz sempre maior número de visitas pela proximidade de Paris, e idas e vindas.
Muito lhe agradeço as interessantes remessas. Do singular artigo paraguaio de D. Viriato Diaz Perez já tinha conhecimento por ter-me sido enviado pelo Sr. Alberto Ferreira Rodrigues, de Pelotas. A este enderecei acerca do assunto uma carta um tanto longa que o Sr. talvez tenha visto, pois recomendei ao Octavio Silva Costa que obtivesse ser publicada em Pelotas e no Rio.
Li também o folheto em defesa do Padre Fidel Maiz que, por sua avançada idade e sua conduta regular, desde a conclusão da guerra, merece compaixão.
Admira, porém, que haja ainda quem descubra em Francisco Solano Lopez certas qualidades dignas de louvor quando esse déspota não se assinalou senão por atos de crueldade que assombraram aquele tempo e pela ambição tenaz que o levou a sacrificar durante cinco anos, além de seu numeroso exército, a população quase toda de seu país.
Li com grande prazer a magnífica conferência sobre "Francisco Manuel e o Hino Nacional", cujo erudito desenvolvimento, estendendo-se também ao Hino da Independência, muito me instruiu acerca das origens de ambas essas brilhantes e históricas produções musicais.
Rogo-lhe diga ao Sr. Basilio de Magalhães que apreciei imensamente a sua Memória sobre a Expansão Geográfica do Brasil nos dois primeiros séculos, completada pela enumeração de documentos relativos ao mesmo assunto no século seguinte. Admirei a erudição escrupulosa com a qual faz reviver minuciosamente tantos empreendimentos audazes que muito contribuíram para progressivamente levar a civilização no interior do Brasil e cujos pormenores ficaram ignorados