o padre em desobriga. Confundem-se nas igrejas com as populações rurais e vilas. Sabem as intrigas da vizinhança e por vezes nelas figuram. Perderam de todo a língua dos antepassados, falando em lugar dela o nosso idioma. Constroem casas como as nossas, vestem-se como nós, usam os nossos utensílios e a nossa medicina. Alugam-se e alugam os filhos. Compram e vendem, preferindo, como é natural, para as suas transações, certas pessoas e certos lugares. Tudo isso praticam à imitação dos brancos e, todavia, são índios puros, índios ásperos, índios selvagens, com a sua sociedade à parte e tão alheia à nossa quanto lhe é possível sonegá-la dentro de mútua e voluntária aproximação em que as duas se defrontam. Da nossa indústria aceitam tudo quanto estava ao alcance deles; dos nossos costumes adotaram os mais semelhantes aos seus; do nosso adiantamento intelectual e moral não fazem caso. A catequese religiosa não deixou neles mais do que uma beatice extravagante e supersticiosa com que misturam suas crenças fundamentais a alguns atos do culto católico. A não ser esta aquisição de fanatismo, nada mais espiritualmente receberam do meio em que vivem e ao qual permanecem indiferentes o inadaptáveis. São fetichistas incrustados em nossas vilas; espectadores apenas da nossa vida, eternos convivas sem lugar à mesa da nossa civilização. Nas suas festas domésticas é que, sobretudo, se apanha o apego dos Potiguara aos seus hábitos avoengos. Eles dançam e cantam como índios. Usam instrumentos de música, mas instrumentos indígenas, cuja fabricação custa evidentemente mais do que alguns mil-réis com que comprariam o realejo de fole ou a tradicional viola dos sertões". E concluía: "O sistema de escravidão em que vivem arrastou-os a essa penúria e imbecilidade. A esse entorpecimento". Afirmava ainda o autor da Cruz Indígena que ninguém se