podia fiar na palavra ou nas promessas dos Potiguara, porque "um longo comércio com a velhacaria e a fraude" os havia também habituado à fraude e à velhacaria.
A situação dos índios de Águas Belas talvez fosse a mesma dos Potiguara do litoral paraibano se elementos constitutivos da cultura fulniô não os tivessem preservado de tão grande degradação. O índio - observa argutamente Baldus(446)Nota do Autor - adota um ritmo de trabalho diferente do homem dito civilizado; mas, embora não obedecendo a um método de labor, dedica-se à sua tarefa, na hora necessária, com uma veemência muitas vezes insuperável. E isso nem sempre o impede, assim mesmo exausto, de cumprir, no decorrer da noite, o seu dever de cantador ou de dançarino. Chamar o índio preguiçoso (acrescenta aquele eminente antropólogo) demonstra falta de compreensão por parte dos que persistem em aferir os nossos padrões com os padrões indígenas. O índio, arrancado de sua cultura e impelido para a cultura chamada ocidental, encontra-se na situação do lavrador, "cuja atividade se tornou supérflua graças à introdução de novas máquinas". A força vital do índio, em tais condições, tem de esgotar-se; mas a sua "preguiça" não passa, na realidade, de perda dessa força vital. A preguiça ou malandrice dos Fulniô explica-se, em grande parte, pelo motivo a que me refiro.
7. - As relações entre os índios e as populações alienígenas (caucasianos, negroides, etc.), com os seus subsequentes conflitos, têm sido objeto de notas, comentários e observações de numerosos autores(447)Nota do Autor. As