maldizendo-se, como se o duque de Calábria, seu noivo, fosse o Minotauro. Estalava-lhe no sangue castelhano a flama duma raça amorosa, mística e imperial - de grandes senhoras, voluntariosas e brilhantes. Envelhecera, sem dar por isso, cercada da família numerosa e desunida. Foi madrinha da pequenina Isabel, sua neta brasileira, como fora do conde de Chambord, o neto francês. Dois destinos opostos. Ele, a flor de liz, condenado a representar, num exílio irremediável, a estirpe de Henrique IV, agarrada à sua bandeira branca e ao seu divino direito; ela, penhor do futuro num clima impróprio para a heráldica antiga, fadada a ser herdeira duma coroa recente e três vezes chefe de Estado, num país que nunca a entendeu bem...
Foi a 15 de novembro o batizado. A pompa adotada não se afastou das praxes da corte desde o batizado dos filhos de D. Pedro I.
Quarenta e três anos depois esse dia seria o mais cruel da vida que então se cobria de brocados e laçarotes suspensa, como um talismã, das mãos secas do bispo conde de Irajá - "a boca cheia de riso como frei Luiz de Souza refere de S. Bartolomeu dos Mártires, os olhos pequenos, com a pouca luz restante, coados pelos vidros grossos dos óculos de ouro..."(1). Nota do Autor O Brasil político e nobre, exército e armada, burguesia e clero, lá resplandecia, no largo do Paço, na tarde estival e azul. Vestia-se grande gala. Tomara a menina das mãos da aia o mordomo da Imperatriz, de opa de veludo carmesim e sendal, Ernesto Frederico de Verna Magalhães, filho da boa "Dadama". Esta - condessa de Belmonte - e D. Rita Rosa; o velho marquês de Maceió, representante da rainha de Nápoles; o estribeiro-mor, marquês de Itanhaém, fazendo