povoar propriamente, convém insistir, a nenhuma das nações descobridoras de então ocorrera fazê-lo.
Na impossibilidade de lhe dedicar suficiente atenção e de empregar no Brasil bastantes recursos pecuniários, na dificuldade também de o guarnecer militarmente, Portugal teria optado pela "política do segredo", muito lógica e inteligente, ocultando ao mundo o achamento com receio das incursões de outros povos, especialmente de espanhóis, que já tinham descobertas na direção do poente, e dos franceses, que começavam a expandir-se no mesmo rumo. Além do risco de perda dos novos territórios, havia o perigo do estabelecimento de hereges naquela parte do império. Ambas as coisas eram, na verdade, muito para temer. No primeiro caso a maior ameaça vinha de Castela, que disputava com os reis portugueses, por seus empreendimentos navais, pelas armas e com a astúcia diplomática, as terras descobertas ou por descobrir a Ocidente. Por mais de dois séculos as duas nações ibéricas se bateriam intermitentemente, de armas em punho ou no tablado diplomático, quanto à extensão dos seus direitos em face do meridiano de demarcação, traçado pelo papa Alexandre VI e fixado em 1494 pelo Tratado de Tordesilhas. França, Holanda, Inglaterra, ainda que mais dissimuladamente e como que deixando a iniciativa à audácia dos seus mercadores e corsários, tinham os olhos voltados para a possibilidade de estender a sua soberania às terras equinociais. O perigo da disseminação da heresia calvinista a regiões que Portugal já dominava como suas, de fato e de direito, e cuja posse o papado lhe reconhecia como prêmio pelos serviços da dinastia de Avis às causas do cristianismo,(61) Nota do Autor era motivo de iguais apreensões.