Vida de D.Pedro I, o rei cavaleiro

para rei, sequer para marido, nem para chefe, mesmo de sua casa. A fatalidade jungiu-o a uma das princesas mais feias e inquietas da Europa, a prima Carlota Joaquina, áspero rebento de um tronco que reflorira - os Bourbons de Espanha.

Mulher singular foi a princesa do Brasil, a quem D. João desposou em 1785. Atingira ele os dezoito, ela não alcançava os onze anos. Não fora bem um casamento; mas a celebração ritual de uma aliança, de um lado Carlos IV, do outro D. Maria I. Carlota Joaquina era baixa, sardenta, ossuda; claudicava de uma perna, ria com todos os maus dentes, vestia bizarramente, sentia, pensava, agia em descompasso, com pelos à volta da boca, traço fisionômico da sua masculinidade. Dela se diria o que Napoleão disse da duquesa de Angoulême: foi o homem da família. A mãe, Maria Luiza de Parma, fizera do valido o primeiro estadista de Espanha; o pai, flácido, paciente, escondera na sua desolada intimidade o desânimo hereditário, e jamais deixou de ser sombra de rei. Carlota Joaquina levou para Portugal essa impressão de ruína doméstica, na qual a mulher sobrelevava: a sua história política resumiu a luta, astuta ou desesperada, entre a sua vontade de histérica e a esperta passividade do príncipe seu esposo. Ela tinha talento. Era instruída, como devia ser uma infanta destinada a reinar. Quando chegou a Lisboa, pasmou a corte, ante os dotes do seu espírito, as suas prendas, as línguas que dominava, uma harpa em cujas cordas, ágeis, os dedos afuzilados corriam - dedos primorosos, que, com os cabelos

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