e os olhos, eram os únicos encantos da sua pessoa. Nenhuma mulher em torno dela, em Lisboa e no Rio de Janeiro, lhe disputou a primazia na conversação, na frase conceituosa e na alegre ou espiritual intenção dos ditos. "Unica em sua classe" afirmou o argentino Rodriguez Peña, em 1808... Foi esse o contraste inicial, entre a princesa de Espanha e o príncipe de Portugal, quando, ambos crianças, se deram as mãos em matrimônio. Inferior à mulher, apenas forrado, encouraçado de resignação, que aos olhos dos cortesãos parecia sabedoria, D. João lhe aceitou o jugo, amável de começo, depois pesado, afinal insuportável. Ela era portadora de uma missão política, que lhe constituiu a obsessão da vida de choques e malogros: desarticulada, ríspida, viril, dera-se toda à ambição de ser mais que a mulher de César... o próprio César! Encetou a sua conquista do Estado pela conquista da nobreza, em que perseverou até 1805: no intervalo entre o nascimento dos filhos, as danças, as músicas, os salões, enquanto D. João, amuado, recolhia à Mafra a hebetude e as digestões. Desavieram-se cedo os esposos; e as rusgas, que só acabaram na morte, foram arma e pretexto nas mãos hábeis da princesa. Mostrou-se intrigante, corruptora, associativa. Enredou, insinuou, desnovelou o fio de sua trama, confidenciada entre as cortes, e cujo rumor de conspiração chegou afinal aos ouvidos do príncipe. Esse episódio de incompatibilidade conjugal culminou em 1805, quando emparceirada com grandes senhores descontentes, inculcava ela à Espanha o marido como louco; entretanto