era a garantia da continuidade, do reverdecimento da dinastia; Carlota Joaquina desprezava-o, dando-o inteiro ao pai, como se até no amor materno a política reinasse. Ficava para si com o outro filho, D. Miguel. D. Pedro, amado pelo regente, a ele cabia; D. Miguel, mais espanhol, os largos olhos negros, de uma formosura feminina, este pertencia a ela - e o dizia, desenvolta, a apregoar que o infantezinho seria o seu arrimo, o seu futuro. Apenas a princesa influiu, por todos os meios, na formação desse, filho predileto, enquanto o primogênito, negligenciado na sua nativa turbulência, desenvolvia em liberdade o espírito jovial, varonil e independente. Uma antítese, as duas reais crianças, que o destino algum dia transformaria em inimigos mortais.
Queluz... Aquele palácio josefino de elegante fenestragem havia de ser, na saudade de D. Pedro, a sua mais deliciosa emoção portuguesa. É um amplo solar de alvenarias claras que um varandim aformoseia, suspenso sobre o parque arquitetural de Robillion. Tudo aí é serenidade, é arte séria, é grave compostura, que combina o risco barroco das portadas com a linha francesa dos jardins, onde os tons puros dos mármores põem nas verduras uma alegria ática. Nem majestade, nem austeridade, nem frieza. O arquiteto lineou a casa ajeitando-lhe os arcos, as sacadas, as escaleiras, para o sarau artístico da rainha, o concerto de flauta, o minueto, enquanto, pelos salões de tetos almofadados a fidalguia, empoada e de casacas vermelhas, ajustava ao olho voluptuoso a luneta de Paris. Havia tranquila ordem