A amizade, incondicional e comovida, que lhe dedica, vela os seus defeitos, amacia as suas arestas, esconde os seus pecados. Lobato sabe tudo; o príncipe quis que pudesse tudo. Carlota, no Ramalhão, dando ordens aos chacareiros saloios, trinca o lábio com despeito: D. João está embridado por um cortesão astuto. Intriga. Mente. Envenena. A princesa tem a seu serviço Sabugal, Alorna, Ponte de Lima. Lobato defende-se - e ao príncipe, a quem chama de doudo. Uma aventura amorosa perpassa na vida nostálgica de D. João um raio de sol: essa luz só consegue clarear-lhe o profundo vazio da alma. Disse-se que se enamorou de D. Eugenia de Menezes, uma das filhas do conde de Cavaleiros, que fora no Brasil exemplar governador. Era uma rapariga que não saberia resistir ao soberano. Parece, realmente, que a cortejou D. João - melancólicas galanterias de um pobre misantropo, balofo e sujo, que falava devagar, o beiço belfo, sobre a testa curta os anéis da cabeleira áspera, macrocéfalo, aparentemente tolo. Foi fato, que D. Eugenia de Menezes tempos depois fugiu de Lisboa, com um médico do Paço, que, verdadeiro ou suposto sedutor, abandonara mulher e filhos à ventura de seu amor. Uma provisão real despojou a moça das prerrogativas de sua linhagem e fortuna, boquejou-se que D. João, indignado, demonstrava não ter concorrido para a sua desgraça, e só muito mais tarde se soube, com espanto, que enquanto o governo castigava D. Eugenia, o príncipe lhe esmolava pingue pensão. Lobato voltou, contudo, a acolitar em Mafra Sua Alteza, que presidia