às novenas, ouvia o cantochão, aplaudia as missas de Marcos Portugal, desatento ao que se passava na Europa. De uma feita, porque o amigo adoecesse, protestava "... já não posso sofrer a falta da tua companhia pois certamente não estimo mais outra pessôa que á tua pois estou persuadido que ninguém me ama e serve com mais fidelidade..." Ninguém. Nem a mulher, nem as irmãs, nem os filhos. D. Pedro, o jovem príncipe da Beira, crescia rústico e forte como um camponês. Não tinha tempo de ouvir o pai, menos de distraí-lo: era uma ave que queria ar, natureza, liberdade. D. Miguel, agarrado às saias da mãe, nunca lhe entrou no coração. Talvez pensasse, ao olhá-lo - à carita longa e aos olhos negros da princesa - no galante marquês de Marialva. As infantas faziam família à parte, entre as açafatas, as antigas aias da rainha D. Mariana Vitoria, as criadas pretas. D. João só tinha Lobato. Só em Lobato confiava. Foi a suprema dedicação da sua vida de sentimentos cautelosos e suave passividade.
O outro afeto que cultivou foi o de D. Carlos, infante de Espanha. Esse era de outro gênero. A corte de Madrid cedera à de Lisboa, para que esta visse crescer, até casar com uma das suas infantas, o pequenino e pálido D. Pedro Carlos, sobrinho de Carlota Joaquina. Um temperamento dócil e lânguido, D. Pedro Carlos contrariava, irritava a tia que o abominou: mais por isso, talvez, D. João se interessou por ele, mimou-o, reservou-lhe ao seu lado um lugar onde quer que se mostrasse, a fazer praça daquela cordialidade, que sensibilizava o menino, magoando a princesa. Leal e sensível