coração, D. Pedro Carlos retribuiu esse carinho, estimando, mais que ao próprio pai, o tio afim. Pegou-se-lhe à casaca de largas algibeiras atulhadas de comezainas. Alegrou-lhe os ócios com a sua precoce gravidade, a inteligência viva e reta. Jurou D. João que o faria seu genro. Pouco depois de chegar ao Rio nomeou-o... almirante general da Real marinha portuguesa.
O príncipe da Beira não se sentiu preterido junto do pai. Quando começou a discernir, já o primo de Espanha lá estava, clorótico e quieto, por isso isolado, talvez desprezado das outras crianças, que faziam a roda bulhenta do herdeiro. Não lhe quis bem ou mal. A aversão das crianças se dirige contra os concorrentes, e D. Pedro Carlos era simplesmente uma exceção no meio convulso em que fenecia. Devia interessar às mulheres. Predizia-se a consumpção que o havia de matar. Era simpático, doce de gênio, generoso. Carlota detestava-o: de princípio sem motivo, instintivamente, depois com muita razão. D. João alimentaria o sonho de dar o trono de Espanha ao infante: e esse trono Carlota, mais feia e mais aguda, não cedia a ninguém. Ela cobiçou. Verdadeiramente, cobiçou tudo. Quis ser rainha de Portugal, interditando o marido por demente, como Catarina II; quis reinar em Espanha em substituição de José Bonaparte, considerando o pai e o irmão banidos da cena política; depois, diplomata, de uma finura maravilhosa, ambicionou o Rio da Prata, de mãos dadas a Rivadavia, Belgrano, Pueyrredon... Uma soberba ideia: