coroar-se rainha do Prata! Mais grandiosa ideia: vingar-se do marido parvo ameaçando-lhe os Estados, ela também soberana, a estender de Buenos Aires a rede das anexações... D. Pedro, esquecido, alarmava os lacaios com a incontinência infantil. Parecia que ninguém se lembrava do seu alto destino, as responsabilidades futuras: o príncipe da Beira era uma figura de cerimonial, nada mais. Conservou-se assim até 1817, quando o casaram. Em razão da primogenitura devia aparecer, nas solenidades, junto do regente: surgia, afogueado com a sua pequenina farda, os cabelos ruivos e crespos, os olhos cintilantes, e os leais súditos, no beija-mão geral, lhe osculavam também a papuda dextra calosa. Depois, mergulhava nos parques onde, como bandos de pássaros, as crianças corriam...
1807.
Descoroçoamento. Confusão. Fragores de catástrofe. A paz de Tilsitt coloca Napoleão em face da Inglaterra: os dous inimigos que se mediram vinte anos. A Inglaterra é invencível nas águas. Pelas armas não a reduz o imperador. A cavalaria de Kellermann não pôde transpor o passo de Calais. Os canhões de Maison não alcançam Londres. Então concebe o plano da sua guerra econômica. O Reino Unido não vive sem os mercados continentais; Napoleão fecha-os. O inglês devia ser o inimigo da Europa. Tratar com o inglês era atacar o imperador. Era desobedecer-lhe. Era desafiá-lo. D. João treme, oscilando entre o medo e a lealdade. De coração ama a Inglaterra, com a mesma fiel e larga devoção