velhos ecos de Neukomm e Marcos Portugal, e faziam dançar aos cortesãos doutrora os fantasmas graciosos dos serenins de Carlota Joaquina. O piano, depois do bombardeio do Porto, foi o ruído predileto desse homem que envelhecera aos 35 anos.
Lisboa, após Evora-Monte, rabiava o delírio político indignada pela absolvição do infante.
Há em todas as lutas a ala branca dos generosos, que perdoam, e a ala retinta dos vingativos, que castigam. A população, que amara D. Miguel até o fanatismo, queria agora enforcá-lo. Irmão ou inimigo, D. Miguel era para o duque de Bragança o vencido, a quem se respeita, e o vencido honrado, que tem direito à homenagem do vencedor. Não somente deixou que ele saísse do reino, como consentiu se lhe fixasse uma pensão de 60 contos - que afinal ficou no papel. Lisboa insurgiu-se. Aquela palavra de piedade ao fim de uma guerra bárbara a uns parecia traição, a outros ultraje: ultraje à memória dos que tombaram - no Porto, em Almoster, na ponte de Santa Maria, na Asseiceira, heróis mortos em ódio... D. Pedro foi vaiado no teatro de S. Carlos em 27 de maio.
Atiraram-lhe lama e pedras ao coche: ainda assim entrou no teatro, assomou ao camarote perante uma plateia enfurecida que apupava, enfrentou-a com o olhar sereno e duro. A assoada mudou-se em tempestade; gritos injuriosos cruzaram-se no espaço; a plebe urrava - "Fóra, fóra!" Então, um acesso de tosse agitou o imperador. Levou de pronto à boca o lenço, e retirou-o