Vida de D.Pedro I, o rei cavaleiro

D. Maria II. Como desde 1829 lembrara o excelente Rezende. Acudia às dívidas, que os seus testamenteiros deviam pagar, e sem esquecer a prata de Vila Viçosa que fizera amoedar, previa o caso da saída dos seus filhos do Brasil, que ficariam então por tutelados da madrasta. O testamento do regente de Portugal era singelo e familiar, sem nenhuma das grandes frases com que morrem os capitães célebres, prelibando a imortalidade. Pagava aos credores, amparava os bastardos, entregava - quase pobre! - à generosidade nacional a esposa e os filhos.

Com que suave melancolia atravessou ainda uma vez, entre latadas de buxo e os bancos enormes vigiados pelo olho risonho de sátiros de pedra, o parque francês povoado das imagens graciosas e nítidas da sua infância! E tudo tão igual... A caliçaria parda, os varandins outrora tomados pela onda farfalhante das sedas, pelas manchas vermelhas das casacas, as alamedas geométricas que um saibro sonoro revestia, e nas quais parecia fugir-lhe o passado, de calção e rabicho, com o seu óculo de oiro e o seu sapato de fivela - o passado que ele devastara! - enquanto dos salões emolduradas de rosas, a Sala das Talhas, a da Tocha, a dos Arqueiros, a do Lanternim, coavam para fora, para o ar luzente e pacifico de setembro, ecos doces de espineta, perdidos bemóis italianos errantes entre as sombras dos serenins da Princesa... Ó, como ali o velho Portugal cortesão, enfático e beato ameigara a sua áspera tristeza e refegara num sorriso a sua grossa face

Vida de D.Pedro I, o rei cavaleiro - Página 304 - Thumb Visualização
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