Vida de D.Pedro I, o rei cavaleiro

envernizada de pomadas e sinais de tafetá dos saraus da princesa Carlota! Entrando no paço, que a rainha D. Mariana Victoria inaugurara, com as suas noitadas preciosas de pura e rica música ilustrada pelas vozes mais raras, pelas mais fidalgas batutas da Europa, D. Pedro IV descerrava diante de si os batentes da memória: e uma inefável amargura que ali achara foi o ambiente necessário à sua agonia. Podia, de sob o doce daquele leito, olhar a estrada percorrida desde o ponto de partida: Queluz! E, supersticioso como todo soldado, verificava com espanto que ela descrevera uma circunferência, e terminava onde começara...

D. Amélia era, só, a realidade bendita. Ela o amou com todas as forças da sua alma romântica, como se a sua missão de rainha e o seu papel de mulher isto só lhe exigissem. Pensou morrer, quando ele, devagar, morria, e a si mesma jurara sepultar-se em irremediável recolhimento tanto que lhe faltasse o esposo, sua paixão e seu orgulho. A herança da mãe sentimental acalorava-lhe de uma ternura absorvente o sangue moço: e a outra Amélia, a que escrevia a Eugenio estas palavras reparadoras: "a tutto son disposta e di nulla mi lamentaró se mi resta la tua tenerezza" - renascia na sua dedicação aflita. Admirava-o. Também como sua mãe admirara o marido: "...la tua grandezza d'ânimo potrá fare maravigliare il mondo, non giá tua moglie..." Nunca sobre o trono português mais lancinante dor feminina chorara ainda a viuvez como a chorou Amélia de Leuchtenberg, a quem D. Pedro moribundo

Vida de D.Pedro I, o rei cavaleiro - Página 305 - Thumb Visualização
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