estreitava as mãos transparentes, como se o fio de vida se lhe prendesse, aéreo, à maravilhosa serenidade do seu sorriso. A agonia de Sua Majestade por um momento trouxe Portugal suspenso dos boletins médicos e da fisionomia, cada vez mais pálida, da duquesa de Brangança.
D. Pedro IV expirava, como uma luz que se apaga docemente: a este clarão trágico a epopeia da sua vida se recortava bruscamente. Os poetas suspiravam, que ele se finava oportunamente, sobre os troféus do seu triunfo, antes que os corrompesse o tempo, e no relógio da história outras horas soassem; porém o povo, pasmado daquela insidiosa febre, e costumado de ver morrer assim reis inválidos, jamais rapazes sadios como galegos, rompia pelas igrejas a suplicar de Deus a saúde do Libertador. Deus não o ouviu, e os poetas tiveram razão. Caindo sobre os loiros frescos da glória, não resvalou D. Pedro para as miseráveis esferas da vida medíocre e do fim obscuro: na sua cabeça imperiosa não alvejavam as cãs, e foi com ela alta, a irradiar força e sonho, que entrou quase festivamente nos círculos dos nomes imortais.
D. Amélia não lhe abandonava a cabeceira. Raros fidalgos entravam na alcova da sua dor. A vida deixava-o vagarosamente, travando-lhe os movimentos, enquanto a inteligência, lúcida e acesa, ardia teimosamente o seu facho, até o fim.
A 19, o duque da Terceira foi beijar a mão ao moribundo. D. Pedro pediu que lhe trouxessem um soldado