Na Planície Amazônica

multiforme e sonoro, de águas correntes e policrômicas, que registam no solo e no arvoredo as horas, os dias, os meses, os anos e escapam cantando para o mar. Em volta disto tudo, que se recorta e se grava no vale — a cinta de argila e grés, imensa muralha contornante da esplanada. Seus contrafortes, em esporões, avançam aqui e ali, planície a dentro. O Ereré, a serra da Escama, o morro da Prainha, o monte de Parintins, o outeiro do Maracauaçu, pontos de referência que balisam as distâncias, fazem parte desse terreno terciário, escorrem dos altiplanos e das cordilheiras. Às vezes, no flectir do caudal, em Óbidos, Cararaucu, Tabocal, Lajes, quebrando a regularidade das curvas debruadas de margens baixas, a mole flúvia lambe o sopé duma ribanceira chagada de barro vermelho. Fora disso, apenas os olhos do espírito abarcam a moldura arenítica erguida em torno do vasto anfiteatro. O mapa fiel, porventura nítido na retentiva do observador, consegue talvez delinear ilusoriamente o panorama em bloco, quando na verdade esse panorama não pode ser visto senão parceladamente, nos planos duma cartografia fragmentária. Torcicolando das alturas rumo das baixadas os rios contam, pela cor das toalhas líquidas, pela qualidade vegetal do húmus, pela natureza dos detritos minerais, a história da terra

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