em agulhas ressurgia o tesouro fabuloso do Eldorado, entrevisto no sonho mirabolante do flibusteiro da conquista. E a flora e a fauna, a água e o solo, sem a imaginação exaltada do frade e do soldado, do pirata e do almirante, definem-se, nestes dias radiosos da ciência, nos traços fiéis da verdade. Enquanto Spix avaliava em 700 as famílias ictiológicas no Brasil, Agassiz, 40 anos depois, só na Amazônia encontrava dois mil, número duplo das existentes no Mediterrâneo e superior a todas as conhecidas no Atlântico. Pobre de beija-flores, porque a flor silvestre quase não existe na mata amazônica, o vale é rico de 14.712 espécies animais, oito mil completamente novas e discriminadas por Bates nos seus dez anos de peregrinação em Teffé. Entre os macacos, de cauda apreensora, contam-se 38 qualidades. Wallace, o êmulo de Darwin, colecionou 500 famílias de pássaros. E no raio de uma hora, nas imediações de Belém, os entomologistas catalogaram 700 variedades de borboletas, quando as Ilhas Britânicas só possuem 66 e a Europa toda, 390. No ocidente do vale, à ourela dos rios, na várzea plástica, a selva é quase hostil. Aí, meio fechadas na ramaria, ao longo dos afluentes, dos confluentes, dos defluentes — as tristes choupanas. O homem habita nesses recantos da mata envolto na solidão de mil nuanças