O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos: 1930-1942. O processo do envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial

da política do Rio de Janeiro, é preciso também lembrar a presença no Brasil, desde o início do século XIX, das importantes colônias italiana e alemã, as quais seus países de origem pretendem "proteger".

Esses poucos exemplos já permitem perceber até que ponto, em uma situação enredada, tudo pode tornar-se, para a história, questão de nuanças e de interpretação. Está aí também a chave da ambiguidade da política que deverá ser adotada pelos governantes do Brasil.

É no seio de uma equipe governamental amplamente dividida no plano interno que se decidem as orientações da política externa, pois estas últimas dependem das lutas de influência dos principais atores. A evolução da política interna também merece atenção. Dentro dessa perspectiva, a pesquisa ultrapassa o quadro da análise tradicional das relações internacionais. Isso também explica a periodização escolhida. Em um primeiro tempo - até novembro de 1937 - a divisão é temática e obedece aos grandes momentos da história interna brasileira. Em um segundo tempo, a partir da instauração do Estado Novo (EN), as grandes fases seguem uma cronologia internacional, no interior da qual se distribuem os temas principais. Esse método de procedimento é explicado pela importância e originalidade da análise do período que vai de novembro de 1937 a agosto de 1939. Importância, pois é durante essa fase que opções decisivas serão feitas, assumindo o nacionalismo posição bem particular; originalidade, porque o período é rico em acontecimentos e grande parte das fontes consultadas é inédita.

Os temas abordados na presente pesquisa não são unicamente diplomáticos. No que diz respeito às relações intergovernamentais, vários outros aspectos - tais como a propaganda ideológica, as relações econômicas, os fornecimentos de equipamentos militares, a luta anticomunista e, enfim, um aspecto pouco conhecido, a diplomacia secreta e paralela - tornam indispensável a multiplicação das fontes. A tarefa complica-se ainda mais quando é preciso tratar das colônias estrangeiras - italiana e alemã - instaladas no Brasil e sua importância nas relações entre o Rio de Janeiro e o Eixo. Como essa questão é vista por Roma e Berlim? Além do mais, qual é a natureza e o grau de lealdade dessas colônias para com o país de acolhida? A política externa brasileira é fruto da interação constante desses elementos tão diversos.

Uma segunda dificuldade importante a se apresentar no correr da pesquisa diz respeito às múltiplas faces da política externa brasileira. Ora por divergências políticas, ora por causa de rivalidades pessoais, os diferentes gabinetes Vargas jamais se apresentam unidos diante das principais questões que surgem para o país. A atitude incoerente e ambígua do Rio de Janeiro torna difícil a percepção de uma linha de conduta nos assuntos externos do país, em um curto lapso de tempo. É apenas em períodos mais extensos que aparece uma certa constância.

O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos: 1930-1942. O processo do envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial - Página 19 - Thumb Visualização
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