poder central encontra em uma política que responde às aspirações da oligarquia agrária(20). Nota do Autor
O terceiro aspecto político importante da Primeira República é a ausência de partidos políticos com ressonância nacional. De fato, o Brasil conta com numerosas formações políticas durante a Primeira República. Seus respectivos pesos políticos estão ligados diretamente à importância do estado onde foram organizadas. O que quer dizer que esses partidos políticos respondem unicamente a interesses particulares dos estados. Geralmente cada estado tem dois partidos políticos maiores - o primeiro representa o poder na política do estado e tem boas relações com o poder central; o segundo se encontra duplamente na oposição: de um lado, no plano da política regional e, de outro, no plano nacional.
A aliança objetiva e prática entre o partido majoritário de cada estado e o poder central tem várias consequências; primeiro, essa aliança é tranquilizadora para os dois partidos que podem controlar - através das eleições - a evolução da política regional e nacional. A seguir, essa situação permite ao poder central ter uma visão da política interna dos estados, e isso apesar da "política dos governadores". Enfim, o poder central não considera irreversível sua aliança com os partidos majoritários dos diferentes estados e reserva-se a possibilidade de, a qualquer momento, conceder seu apoio à oposição nesses estados. Isso lhe dá uma força de pressão considerável sobre a conduta dos partidos políticos regionais brasileiros.
Paralelamente à sua ressonância estritamente regional, os partidos políticos brasileiros se caracterizam por uma ausência de preocupações ideológicas, colocada à parte uma profissão de fé republicana. Em suma, nada os distingue uns dos outros. Assim, a maioria dos estados tem um "partido republicano", ao qual se acrescenta o nome do estado respectivo. A tentativa de criação de um "Partido Republicano Federal" em 1893, tendo como objetivo unir as diferentes correntes "federalistas", é um fracasso e os partidos políticos continuarão a ter uma dimensão estritamente regional.
Em definitivo, pode-se dizer que o sistema dos partidos políticos, tal como ele se apresenta durante a Primeira República no Brasil, é o fiel reflexo da personalização das relações sociais e da primazia dos interesses de grupo sobre os aspectos ideológicos. Essa tendência é profunda e caracteriza ainda hoje os partidos políticos brasileiros(21). Nota do Autor