pois é-lhe impossível, de maneira isolada, lutar contra a máquina eleitoral do Rio de Janeiro. Após alguns meses de reflexão e de contatos infrutíferos, Antônio Carlos - consciente da impossibilidade de lançar sua candidatura com algumas chances de sucesso - decide radicalizar sua posição e impedir, a qualquer custo, a eleição de Júlio Prestes. Para que seu procedimento tenha algumas chances de sucesso, será preciso que Antônio Carlos encontre aliados. Ele se dirige então, naturalmente, aos principais dirigentes políticos dos mais importantes estados da Federação até então mantidos afastados do poder central em virtude da aplicação do acordo "café com leite". Seu procedimento é delicado, já que a motivação dos eventuais parceiros é diferente: de um lado, uma candidatura frustrada e, de outro, o desejo de pôr um fim ao absurdo e à injustiça do sistema atual. Antônio Carlos encontra-se, portanto, em situação de fraqueza e não pode exigir que outros estados da Federação apoiem sua candidatura. Então, o homem político de Minas Gerais limita seus objetivos e retira seu nome da concorrência à Presidência. Seu único desejo é, doravante, fechar o caminho para o candidato de Washington Luís.
Apesar da disponibilidade de que dá prova Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, seu procedimento tem pouca ressonância. Os dirigentes políticos dos diferentes estados da Federação estão convencidos da impossibilidade de lutar contra o poder central, tanto que se trata dos interesses de São Paulo, o estado mais influente da Federação, nos planos político e econômico.
Somente os dirigentes do estado do Rio Grande do Sul dão alguma atenção ao procedimento do responsável político por Minas Gerais. Essa atenção justifica-se pela ausência quase completa da influência gaúcha na cena nacional. Isso é o resultado mais importante do acordo "café com leite" durante a Primeira República. Mas o interesse gaúcho é temperado pelas dificuldades que podem ser encontradas por uma aliança entre Minas Gerais e Rio Grande do Sul contra São Paulo e o poder central.
Para melhor apreender as razões da indecisão dos dirigentes políticos gaúchos quanto às proposições da aliança de Minas Gerais, é indispensável esboçar um quadro rápido da situação política do estado sulista.
A vida política gaúcha caracteriza-se durante as primeiras décadas deste século por uma luta sem trégua entre duas facções pelo controle dos principais postos de comando e, em particular, o de presidente do estado. A facção majoritária é comandada por Borges de Medeiros e a oposição por Assis Brasil. O primeiro se eterniza na Presidência do estado, o que desencadeia, no início da década de 20, um conflito armado entre as duas facções. Depois de vários combates, Assis Brasil e Borges de Medeiros assinam, em 1923, um acordo conhecido pelo nome de "Pacto das Pedras Altas", no qual Borges de Medeiros renuncia, ao final de seu mandato "presidencial", a disputar novamente a Presidência do estado sulista.