Quando seu mandato chega no prazo decisivo em 1928, Borges de Medeiros, já bastante idoso, pensa em retirar-se da vida política ativa, mas conservando o papel de "todo-poderoso"(23), Nota do Autor papel que foi o seu durante várias décadas. Tem então de encontrar um substituto para não deixar o campo livre para a facção de Assis Brasil.
Borges de Medeiros pensa em um de seus jovens protegidos e já brilhante político: Getúlio Dornelles Vargas. Esse jovem advogado, paradoxalmente pouco prolixo e enigmático, contrariamente à imagem corrente dos homens de lei e dos políticos brasileiros tradicionais, ocupa nesse momento o cargo de ministro das Finanças do governo central. Esse cargo é tanto mais importante na medida em que é muito raro ver um gaúcho em tão alta posição na hierarquia do poder central. O jovem Vargas hesita então em se apresentar à Convenção do Partido Republicano de Borges de Medeiros que deve designar, em 1927, o candidato às eleições do ano seguinte no Rio Grande do Sul. No entanto, Borges de Medeiros sabe ser persuasivo e a alta consideração que tem por Vargas bem como a certeza de sua fidelidade, conseguem convencer o jovem advogado a deixar o Ministério das Finanças e a se apresentar às eleições presidenciais do Rio Grande do Sul.
Como Borges de Medeiros apresenta Getúlio Vargas por ocasião da Convenção Republicana de 1927? O patriarca da política gaúcha considera que Getúlio Vargas é o candidato republicano ideal às eleições de 1928 porque ele tem "um perfeito conhecimento do regime constitucional... e a completa subordinação às normas e à disciplina do Partido Republicano..."(24). Nota do Autor Além disso, Getúlio Vargas tem uma inegável "competência jurídica", uma grande "capacidade administrativa" e qualidades "práticas de atividade, de firmeza de prudência e de energia", condições indispensáveis, segundo Borges de Medeiros a todo homem público. Em seu elogio ao substituto escolhido por ele mesmo, Borges de Medeiros não esquece "a incorruptível moralidade privada e pública" de Getúlio Vargas, bem como o "prestígio individual, perante a sociedade e as correntes políticas", qualidade necessárias para "que o governante se imponha ao acatamento público menos pela força material que por sua autoridade moral"(25). Nota do Autor
A resposta a essa elogiosa apresentação é muito circunstanciada: Getúlio Vargas declara que ele só aceita afastar-se de seu cargo de Ministro das Finanças e lançar sua candidatura à presidência do Rio Grande do Sul