bandeja por... Washington Luís. Sonho acariciado mais irrealista, pois o presidente se atém ao candidato que escolheu(33). Nota do Autor
Quando os resultados das eleições presidenciais são tornados públicos em março de 1930, ocorre o que todo o mundo político brasileiro - inclusive o próprio Getúlio Vargas - esperava - a vitória de Júlio Prestes. Essa vitória é sem recursos, já que o candidato oficial tem 1.091.709 votos em um total de 1.890.524 cédulas válidas.
Como Getúlio Vargas recebe esse resultado? Sem maiores surpresas e sem reação radical. De acordo com o gentlemen's agreement, ele aceita os resultados das urnas; isto apesar da fraude que ainda uma vez constituiu a regra. Mas a fraude eleitoral não é apanágio do candidato oficial, pois a AL utiliza também métodos no mínimo duvidosos. Torna-se difícil dirigir uma acusação de fraude ao candidato oficial. Vargas, então, guarda o silêncio.
A eleição de Júlio Prestes tem duas principais consequências: de um lado, esvazia de conteúdo uma AL que se vê abandonada progressivamente por seus principais animadores. De outro lado, reassegura Washington Luís. Tanto mais que Getúlio Vargas recebe sem protestar os resultados das urnas. O presidente em fim de exercício julga-se então em condição de força e deseja realizar uma ação estrondosa antes de deixar seu cargo: escolhe dar uma lição aos estados da Paraíba e de Minas Gerais por sua "infidelidade" por ocasião da campanha eleitoral. Evidentemente não toca nos deputados eleitos sob o programa da AL e oriundos do estado do Rio Grande do Sul, protegidos, pelo acordo feito com Vargas. Mas como Vargas não pediu qualquer garantia para os deputados eleitos da AL da Paraíba e de Minas Gerais, Washington Luís decide "cassar" - por vício de forma - todos os mandatos dos deputados eleitos pela AL da Paraíba, bem como alguns de Minas Gerais.
Trata-se de um erro político muito grave cometido pelo então presidente em exercício. Com efeito, a AL, que a derrota eleitoral esvaziara de significado, reorganiza-se sob o impulso de seus elementos mais radicais; o movimento começa então a colocar em questão os resultados do escrutínio, e acalenta a ideia de uma ação violenta contra o poder central.
Se os elementos mais jovens e os mais ativos da AL, tais como João Neves da Fontoura e Osvaldo Aranha, consideram muito natural que doravante seja preciso tomar medidas de represália em relação ao poder central, é preciso também observar uma mudança de atitude em Borges de Medeiros. Seu pacifismo e seu respeito pelas instituições parecem ter sido atingidos e o velho caudilho gaúcho começa a dar forma a uma ideia de ação antigovernamental por meios menos legais que as eleições''.(34) Nota do Autor