A partir da entrada do Brasil na guerra, a situação do governo Vargas e, em particular, de seu Presidente-ditador fica pelo menos desconfortável. De fato, Vargas combate oficialmente contra o Eixo pela liberdade e pela democracia, ao mesmo tempo que mantém o país sob um regime ditatorial que é uma cópia das ditaduras europeias. Essa situação paradoxal será fatal para Getúlio Vargas, que será destituído pelos militares em outubro de 1945. O exército organiza então eleições gerais e é um de seus representantes - o general Gaspar Dutra, ex-comandante da FEB na Europa - que alcança a Presidência da República. A democratização do país tem então início. Tendo em vista as simpatias totalitárias de Gaspar Dutra durante o Estado Novo, a sua mudança poderia causar espanto. No entanto, ela entra perfeitamente no quadro da mentalidade coletiva brasileira e se inscreve na filosofia dos políticos brasileiros. As reviravoltas de uma situação, as meias-voltas, os arranjos são sempre possíveis e cabe à ideologia e aos princípios políticos se adaptarem a essas características.
A queda de Getúlio Vargas significa o fim do Estado Novo, mas, significa o fim de Getúlio Vargas? Não, pois o paradoxo para se cumprir tem de ir até o fim de sua lógica própria. É assim que Vargas, levado ao poder, pela força em 1930, mantido pela força militar em 1937, expulso pelos mesmos militares em 1945, obtém uma estrondosa revanche em 1951, quando é eleito por sufrágio universal - pela primeira vez desde que ocupa o primeiro plano nacional - Presidente da República brasileira. Ele começa então a entrar na mitologia política e sua popularidade jamais foi tão grande. Então, quando ele ocupa ainda o mais alto cargo da Nação, por razões cuja explicação ultrapassa as intenções de nossa pesquisa, ele decide retirar-se em definitivo. Impulsionado por "forças ocultas" se suicida em 24 de agosto de 1954. Encerra-se uma era da história brasileira.
Getúlio Vargas está consciente do papel maior que foi o seu durante quase um quarto de século da história brasileira, è quando redige seu testamento político, dirigido ao povo brasileiro, ele declara:
"... Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."