Voltou dias depois, num sábado, mas nem quis vê-lo. Na segunda-feira autorizou-me a devolver para São Paulo o texto revisto.
Uma semana depois era novamente internado e, no fim de um dia e meio ligado a máquinas de respiração no Hospital Samaritano, faleceu na madrugada de 6 de abril de 1987. Apagava-se a chama que brilhara tão intensamente e que lhe permitiu produzir uma obra tão importante, tão extensa e variada. Deixar incompleta esta História da História do Brasil deve ter-lhe custado muita dor.
Afora estes tomos que hoje vêm a lume, sairão futuramente mais três livros: Capítulos da história do açúcar no Brasil, Capítulos das relações internacionais do Brasil, e Ensaios livres, abrangendo, estes últimos, matéria variada, desde os seus primeiros artigos historiográficos, de 1940 e 1941, publicados em jornais diários, até ensaios políticos da década dos 1980.
***
O ano de 1953 marcou o auge das comemorações historiográficas em torno do centenário de Capistrano de Abreu. Mas foi também um ano que demonstrou não ser o Brasil um país sério.
A Divisão de Obras Raras e Publicações da Biblioteca Nacional, integrada também pela Seção de Iconografia e de Manuscritos, vinha preparando há muito a Correspondência de Capistrano de Abreu, contando com o acervo da própria biblioteca e procurando com todo empenho obter outras coleções pertencentes a particulares. À medida que todos percebiam a seriedade dos trabalhos dirigidos por José Honório Rodrigues, afluíam novos originais que iriam elevar a três os volumes publicados.
O Ministério da Educação criara um prêmio para a melhor biografia capistraneana e havia um clima de tensão e nervosismo cada vez maior entre os futuros biógrafos, que sabiam encontrar-se nas cartas de Capistrano um filão riquíssimo de informações sobre a sua vida e os seus trabalhos. As insistências cresciam e o Diretor da Divisão de Obras Raras e Publicações passou a ser um pouco visto como o vilão da história, que se negava, terminantemente, a liberar as cartas.
Era impossível desmembrá-las para dar acesso aos estudiosos. Haveria sempre o perigo de perda (com as cartas datadas apenas com o Santo do dia), de rasgarem-se papéis antigos e de não boa qualidade, e de mil outros acidentes imprevisíveis.
A letra de Capistrano de Abreu, sempre pequena, fora-se tornando minúscula com o tempo.
Nessa época eu sabia tudo que se passava na Biblioteca Nacional e JHR chegava ao cúmulo de rejeitar secretárias, pondo-as a serviço da Divisão. A consequência é que a secretária lhe fazia realmente falta e ele trazia a correspondência da repartição para eu fazer. Toda gente