No mais, como acentuou o Professor Francisco Iglésias(6) Nota do Autor, não tinha hobbies e sua única distração era o futebol do Flamengo. No Maracanã, onde possuía cadeira perpétua, vibrava, xingava o juiz, agredia com palavras ou gestos os que torciam pelo time contrário.
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José Honório era extremamente metódico e escrevia muito depressa, sempre a mão. Sua letra, à primeira vista, parecia mais regular e fácil do que realmente era. Planejava antes, mentalmente, o roteiro do trabalho e quando se sentava para escrever tudo lhe vinha de um só jorro, sem emendas ou paradas. Num dia de oito horas úteis enchia, invariavelmente, 40 páginas de papel ofício, o que dava, conforme o tamanho da letra, de dez a 12 páginas datilografadas.
Ao encerrar a tarefa cotidiana, deixava sempre no meio a frase para poder retomá-la na manhã seguinte, sem quebra de raciocínio. Observava religiosamente suas caminhadas de manhã, na praia de Ipanema ou na Lagoa Rodrigo de Freitas (5km2), e à tarde no varandão da frente, das 6h às 7:30h, quando parava para jantar. Ouvia o noticiário da TV às 8h e depois - apesar de proclamar que não gostava de falar ao telefone -, usava-o durante aproximadamente uma hora, se não recebia visitas.
Seu açodamento quando acabava de escrever qualquer trabalho era tal, que nunca se detinha para revê-lo. Tinha pressa de entregá-lo. Eu lhe sugeria rever, dizia que havia repetições. "Eu gosto de repetir e não gosto de rever", respondia-me. Aquilo que acabara de escrever ficara para trás, era passado, e ele já começara a pensar no escrito próximo. Lia muito, porém somente leitura especializada num sentido amplo. Romances só lera quando estudante. Poesia, somente a engajada de Carlos Drummond de Andrade. Gostava sobretudo de escrever, escrever sempre, sem parar, se possível. Não gostava de música. Dizia que esta não o deixava pensar. Em silêncio, seu cérebro criativo não parava de sugerir-lhe novas hipóteses de trabalho ou complementações de assuntos já tratados.
Era extremamente generoso intelectualmente com os estudantes que o visitavam quase todas as noites, sobretudo na década dos 1960.
Aos seus amigos e professores brasileiros e estrangeiros saudava com carinho especial e atenções múltiplas. Mal conhecia um professor ou estudante mais qualificado estrangeiro e já o convidava para jantar em casa. Dava tudo de si mesmo e do seu conhecimento aos estudantes e professores. Às perguntas mais variadas, amplas ou minudentes, surgidas durante a conversação, tendo por objeto a história e historiografia brasileira, ele