respondia como se tivesse passado o dia estudando aquele assunto. Aqui e ali abria novas perspectivas de pesquisa, de planos de trabalho, de metodologia, de bibliografia. A alguns chegava a emprestar e a dar livros.
Alguém nos contou que numa reunião anual da Associação dos Historiadores Americanos, à qual comparecem muitos recém-formados em busca de emprego, correu a seguinte piada: "O número de estudantes americanos que batem à porta do apartamento do Professor Rodrigues em Ipanema é tão grande, que ele é obrigado a fugir pela porta dos fundos". Os inventores da piada sabiam que ele nunca fugia: ao contrário, recebia a todos de braços abertos.
Julgo apropriado transcrever aqui alguns trechos de cartas que recebi depois da morte de J. H. R.:
Richard Graham, professor da Universidade do Texas em Austin: "As contribuições de José Honório Rodrigues como historiador viverão como seu legado. (...) Recordo também as numerosas vezes, quando eu era ainda principiante, em que ele e você me receberam tão gentilmente e ele me ajudou a encontrar o livro certo e a entrar em contato com a pessoa certa" (Carta de 16-5-1987).
Leslie Bethell, da Universidade de Londres e Diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos da mesma Universidade: "José Honório foi uma figura importante em minha vida, como você sabe: através de sua personalidade, suas ideias, sua cultura e sua amizade. Eu sempre incluí você e José Honório como os dois mais antigos e íntimos amigos brasileiros" (Carta de 27-4-1987).
Em 1968, em Londres, Leslie convidou-nos e ao secretário particular de Harold Wilson para jantar em sua casa. Este admirou-se do lindo rosbife e perguntou: "Você se dá ao luxo de comprar este tipo de carne?" Bethell respondeu-lhe: "Tornei-me historiador devido à influência de José Honório Rodrigues". No Rio, era assíduo frequentador de nossa mesa, inicialmente sozinho e depois com sua mulher. Vira José Honório na praia, nos jogos de futebol, discutindo política e falando apaixonadamente sobre a renúncia de Jânio Quadros, sendo Diretor do Arquivo Nacional, historiador e professor. Então por que não tornar-se também um historiador? E a carreira de historiador foi a que ele escolheu, com resultados tão brilhantes.
Aos 20 anos, quando veio pela primeira vez ao Rio, jantou conosco no apartamento do Leblon e quando ia sair chovia a cântaros. José Honório ofereceu-lhe seu guarda-chuva, propondo-lhe devolvê-lo no dia seguinte no Arquivo Nacional, onde ele estava pesquisando. Muito empertigado, respondeu: "Professor! Eu sou um Trabalhista!! Não uso guarda-chuva".
Para os que não sabem ou não se lembram: o Primeiro-Ministro conservador Neville Chamberlain fora à Alemanha nas vésperas da