2.1- A defesa da razão de Estado
Não preciso aqui resumir as ideias de Maquiavel em O Príncipe, senão lidas diretamente, influentes indiretamente. É rara a citação, nos discursos parlamentares, de Maquiavel, mas ela aparece num ou noutro orador de maior força conservadora. Creio que O Príncipe foi mais falado que lido, mas suas ideias básicas, bastante difundidas, tiveram grande influência no pensamento conservador brasileiro. Tive oportunidade de escrever, em 1957, um artigo sobre "A ideia da razão de Estado", na História moderna, a importante obra com que Friedrich Meinecke estudou o maquiavelismo.(3) Nota do Autor A obra de Meinecke(4) Nota do Autor representou o mais completo exame do conceito da razão de Estado como norma de ação política e lei motora do Estado, que diz ao homem de governo o que ele deve fazer para conservar o Estado vigoroso e forte.
A questão principal que Meinecke tentou estudar era a de como a existência e preservação do Estado se reconcilia com os padrões morais de aplicação universal. O livro traça a ideia da razão de Estado desde Maquiavel, os pensadores políticos da França e Itália nos séculos XVI e XVII até Frederico, o Grande, o arquirrealizador da razão do Estado e a figura central do livro pela dualidade de seus padrões morais e sua consciência do fato, e termina com uma visão rápida sobre as origens da Primeira Guerra Mundial.
A grande contribuição do livro consiste em que ele discute os problemas centrais da vida política, a dificuldade de reconciliar a teoria e a prática, os padrões duplos da moralidade pública e privada, a relação entre a política externa e interna, o problema de reconciliar os interesses particulares dos Estados soberanos individuais com a crença na lei universal.
Na verdade, o princípio de Maquiavel foi o de que "era necessário que o Príncipe que desejasse manter-se a si mesmo soubesse como cometer o erro, de acordo ou não com a necessidade". Foi uma teoria que representou, segundo Meinecke, "uma espada afundada nas costas da humanidade ocidental". Mas era uma teoria que parecia corresponder aos fatos, assim como os grandes Estados nacionais absolutistas substituíram as monarquias feudais da Europa.
Embora O Príncipe de Maquiavel fosse apresentado em forma de injunções ou preceitos para os dominadores, sua doutrina consistiu de fato em generalizações empíricas sobre os meios que os príncipes que desejavam ter sucesso deveriam realmente usar. Maquiavel escreveu sobre a política como ela era, e não como devia ser.
No campo da ação política, o maquiavelismo levou ao reconhecimento e, consequentemente, à mais ampla adoção da razão de Estado, como aquilo que