História da História do Brasil. Volume II Tomo 1 – A historiografia conservadora

os negócios públicos segundo nossas inteligência e consciência. Pertencemos à opinião que se tem apelidado conservadora, porém essa opinião tal qual eu e meus colegas a professamos não exclui o progresso. Pelo contrário, entendemos que não há boa conservação sem que haja também progresso".

Em 3 de julho de 1855, Justiniano José da Rocha pronuncia um belíssimo discurso sobre a tolerância política e a mudança social. Reconhece que as circunstâncias variam e as fases sociais se modificam. Declara que o panegírico feito à obra de 1848 se justificava porque se começara a reconstrução do poder contra as paixões desregradas, contra os perigos que então surgiram, mas de 1848 a 1855 "temos andado, o horizonte mudou, o inimigo que nele desponta é outro, o perigo da sociedade é outro, o abismo outro".

É um conservador dialético que vê sempre como a história muda, e muda em face de contradições variáveis: "Senhores, a obra política das nações, a obra material da organização do país, a obra intelectual da organização das sociedades humanas, não para porque nunca chega ao ponto da perfeição: cada dia mostra um progresso, cada dia, como disse há pouco, o horizonte expande-se; é necessário caminhar constantemente, é lei da nossa natureza e condição; o bem de hoje amanhã será mau, porque além já vemos um ponto mais perfeito, que desejamos alcançar: caminhemos pois. Porque em 1848 salvamos o país, devemos ficar aí? E a civilização é estacionária? E as inteligências humanas param? Não". Mais adiante afirmava: "Senhores, o dever de todos nós é defender a sociedade brasileira, encaminhá-la para o maior bem-estar individual e social (apoiados); não é para mantermos tal ou qual legislação, tal ou qual pensamento político, aceito para socorrer a necessidades que passam e debaixo de condições que constantemente se alteram".

E faz um apelo, ao final, para que todos sejam tolerantes, jurem que procurarão ser e reconheçam que deverão ser. Sua peroração final revela a originalidade do seu pensamento conservador: "Todos sempre quisemos, todos queremos o bem da pátria; todos obedecemos à lei do progresso social, uns seguindo sua razão por este caminho, outros seguindo sua razão por aquele outro: de onde a arrogância de querer que à minha razão se subordinasse a razão dos outros? Lutamos; na hora da luta podemos ter sido intolerantes: é a condição fatal da fraqueza humana; nos dias de luta as paixões se assoberbam e nos arrastam à intolerância; cessa porém a luta, acalmam-se as paixões, a alta razão, a indulgência, a docilidade do brasileiro lança mão sobre todo o passado o véu do esquecimento".(19) Nota do Autor

Como se vê, o pensamento de Justiniano José da Rocha, apesar de conservador-governista, pela força de seu conteúdo dialético, se contrapunha a medidas que lhe pareciam nocivas à própria transação, como ele escrevia, ou conciliação, como dizia o governo do Marquês de Paraná. O apoio conservador

História da História do Brasil. Volume II Tomo 1 – A historiografia conservadora - Página 46 - Thumb Visualização
Formato
Texto