História da História do Brasil, 1ª parte: Historiografia colonial

é historiográfico. Desde que se considere a historiografia como a história da história, só aqueles escritos acabados na forma da descrição ou da interpretação podem ser considerados historiográficos, relatem ou não fatos do passado, ou se limitem ao seu presente. Mas esta distinção tão simples não pode ser facilmente aplicada quando nos defrontamos com uma historiografia tão rudimentar e pobre, salvo poucas exceções, como a dos séculos XVI e XVII. Então não podemos ser tão rigorosos e devemos admitir as relações, formas primitivas da crônica, as descrições, os chamados "descritivos" pelos espanhóis e algumas exposições políticas, como as de Bento Maciel Parente, porque são formas narrativas da atualidade histórica. Não se teria uma ideia da evolução da historiografia brasileira daqueles séculos, se essas narrações não fossem estudadas. Acreditamos que a partir do século XVIII elas já estarão incorporadas nas Histórias e Crônicas e assim poderão ser abandonadas, assinalando-se apenas as formas mais superiores.

É evidente também que tal dificuldade não se apresenta quando a obra é um livro de História, como a de Frei Vicente do Salvador, ou uma crônica contemporânea, como a Jornada do Maranhão de Diogo de Campos Moreno. De modo geral, todo documento, tenha o título de Crônica, Relação, Descrição, Memorial, Narração, que descreva os acontecimentos e os episódios de uma época, história in statu reascendi, merece figurar na historiografia, mesmo que seja primitivo, rudimentar, na forma e no conteúdo. Trata-se de descrições contemporâneas, documentos históricos e historiográficos na acepção lata da palavra, pois o escrito histórico clássico nasceu como história da atualidade. Não há que separar o joio do trigo, quando se quer ver exatamente o bom e o ruim nesta evolução. Será obra de síntese ou lição didática retirar o que não presta. Nem se pode eliminar porque a forma não é elegante ou simples, rebuscada ou complicada, pois esta não é tarefa de uma historiografia.

Há, no entanto, documentação oficial (legislação, por exemplo), há documentos históricos, como correspondência, representações, autos, requerimentos, petições, certidões, consultas, etc., que estão logicamente eliminados de qualquer historiografia, mesmo que a informação neles contida, acabada e perfeita, correta e exata, os classifiquem como a fonte principal do acontecimento. A diferença principal está em que o documento histórico forma-se no momento exato do acontecimento, enquanto o historiográfico pode ser concebido em várias épocas sucessivas ou contemporâneas.

A História de Frei Vicente do Salvador é, por exemplo, um documento histórico, fonte principal de certos períodos, porque seu autor a escreveu enquanto os fatos se sucediam, e é documento historiográfico, com uma construção elaborada do passado e do seu presente.

Há que considerar ainda as diferenças entre a Crônica e a História, sobre as quais escrevemos algumas palavras nas considerações gerais do primeiro capítulo da historiografia geral. Elas guardam sempre uma estrita

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