História da História do Brasil, 1ª parte: Historiografia colonial

conexão com a realidade e são sempre narrativas. A primeira é um gênero menor, sem pretensão de obra acabada, e por ser escrita por quem presenciou os acontecimentos é sempre testemunhal, viva, atual. É por seu intermédio, como fonte de apreensão da realidade viva dos sucessos e episódios diários, que os fatos menores penetram nas histórias mais densas, construídas post mortem dos acontecimentos. A crônica é sempre escrita in statu nascendi, quase sempre é limitada a uma missão, a um episódio, enquanto a história generaliza, na particularidade do sucesso, os motivos da ação, as ligações com outros fatos, as consequências. Não está na seleção dos fatos maiores ou menores chamados a compor a narração, a característica dos dois gêneros de composição historiográfica, porque aquela escolha pertence à formação do historiador e à sua concepção do mundo. A primeira é conjetural e a segunda estrutural.

Com a evolução da historiografia nos últimos séculos, quase todos os documentos historiográficos não são contemporâneos aos sucessos, antes representam opiniões posteriores, juízos ulteriores e, como tais, são considerados na metodologia histórica como obras secundárias, isto é, conhecimentos indiretos, derivados, na melhor das hipóteses, de fontes diretas. São muito raras, raríssimas mesmo, as narrações contemporâneas, as histórias diretas; comuns são as memórias, diários, autobiografias e correspondências, documentos históricos, e como tais não devem figurar numa historiografia.

Convém ainda lembrar que a historiografia holandesa sobre o Brasil mereceu um tratamento mais concentrado, porque a própria existência da nossa Historiografia e Bibliografia do Domínio Holandês no Brasil (Rio, 1949) nos facilitou a redução. O domínio espanhol no Brasil (1580-1640), que abrange a historiografia da conquista do Maranhão, parte da invasão holandesa (1624-1625, 1630-1654) e as viagens pelo Amazonas, é ainda muito mal representado na própria bibliografia brasileira, cujo modelo inexcedível é o Catálogo da Exposição de História do Brasil(7). Nota do Autor

Também deve ser registrada, desde já, a contradição entre a criação histórica bandeirante e a improdutividade historiográfica. Ele não almeja a aprovação presente, não cuidava do julgamento histórico futuro ao contrário dos jesuítas, cuja consciência histórica sugeria narrador, ao lado do ou, no próprio missionário. Compare-se a produtividade da historiografia jesuítica e a improdutividade bandeirante.

As descrições econômico-sociais da atualidade, como os Diálogos das Grandezas, as exposições sobre a corrupção política, administrativa e comercial, como a Arte de Furtar e sobre a situação do negro, como a Economia Cristã, figuram como narrativas críticas da época.

Finalmente decidimos retirar os viajantes, tal como apareciam na historiografia quinhentista, em espanhol, e por várias razões: 1) porque sua admissão se fizera na base da pobreza da matéria historiográfica propriamente

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