da catequese, especialmente jesuítica. São os degredados, os náufragos e os desertores que iniciam a obra pela exploração do trabalho indígena no comércio do pau-brasil. Mas nem todos. Porque, como observou com muita perspicácia Capistrano de Abreu, os primeiros colonos que ficaram no Brasil subordinaram-se a dois tipos extremos: uns sucumbiram ao meio, ao ponto de furar lábios e orelhas, matar os prisioneiros segundo os ritos e cevar-se em sua carne; é o caso daquele castelhano de que nos fala Gabriel Soares, encontrado em Pernambuco com os beiços furados como os Potiguares, entre os quais andava havia muito tempo. Outros insurgiam-se contra eles e impunham-lhes sua vontade, como o bacharel de Cananéia(3). Nota do Autor Havia ainda um tipo intermediário. É o Caramuru, Diogo Álvares, que nem descia ao batoque, nem se alçava no poderio, e conseguia viver bem com o natural da terra e com o europeu. Influía pouco e sofria pouca influência(4). Nota do Autor
O ORIGINAL E AS EDIÇÕES DA CARTA
O original da Carta de Pero Vaz de Caminha guarda-se na Torre do Tombo, em Lisboa. Quem primeiro assinalou sua existência foi José Seabra da Silva e quem pela primeira vez a publicou foi Manoel Aires do Casal, em 1817 em sua Corographia Brasílica. Foi depois publicada em 1826, no tomo IV da Coleção de Notícias Históricas e Geográficas das Nações Ultramarinas.
Grandes nomes brasileiros procuraram fazer uma edição limpa e crítica da carta. É assim que em 1853 João Francisco Lisboa a publica no seu Jornal de Timon (Maranhão, 1852-53, 195-216) e nas Obras (Maranhão, 1865, t. II, 428-45). Varnhagen, na RIHGB, 1877, vol. 55, João Ribeiro no Fabordão (Rio de Janeiro, 1910). Ao lado dessas edições brasileiras, deve-se lembrar, entre as portuguesas, depois daquela de 1826, a de 1892, feita sob a responsabilidade de José Ramos Coelho, publicada em Alguns documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das navegações e conquistas portuguesas (Lisboa, 1892), a edição de Carolina Michaëlis, no vol. 2 da História da Colonização Portuguesa no Brasil, editada por Malheiros Dias (Porto, 1923, 86-89), e a de Antônio Baião, no volume Os sete únicos documentos de 1500 conservados em Lisboa referentes à viagem de Pedro Álvares Cabral (Lisboa, 1940).
A Carta foi traduzida em diversas línguas, desde 1821, por Ferdinand Denis, até 1938 por William Brooks Greenlee. A resenha bibliográfica das várias edições estrangeiras e nacionais de 1817 a 1877 foi feita por Vale Cabral (ABN, 1878, vol. IV, 7-14) e depois por Manuel de Sousa Pinto em dois estudos "A Carta de Pero Vaz de Caminha, edições e leituras", no vol. XI da Revista da Universidade de Coimbra (1933) e Pero Vaz de Caminha e a Carta do 'achamento' do Brasil (Lisboa, 1934). Merece citação à parte a edição crítica feita por Jaime Cortesão, A Carta de Pero Vaz de Caminha, Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1943. Os estudos mais sérios que sobre ela se fizeram são os de Capistrano de Abreu (RIHGB, 1908, t. 71,