parte 2ª, 109-122, e O Descobrimento do Brasil, Rio de Janeiro, 1929, reedição, Rio de Janeiro, 1976), o de Jaime Cortesão acima referido, e o de W. B. Greenlee, onde também se encontram a melhor biografia de Caminha, os vários documentos e a resenha bibliográfica posterior à levantada por Vale Cabral e Manuel de Sousa Pinto.
As biografias anteriores de Francisco Marques de Sousa Viterbo, Pero Vaz de Caminha e a primeira narrativa do descobrimento do Brasil (Lisboa, 1909) e a de A. de Magalhães Basto, O Porto e a era dos descobrimentos (Barcelos, 1932), e "Pero Vaz de Caminha", (in O Primeiro de Janeiro, jornal do Porto, de 16 de agosto de 1940), ajudaram Greenlee e Cortesão a oferecer informações desconhecidas.
Esses tipos e esses processos de adaptação do europeu à nova terra são o natural desenvolvimento da fácil assimilação ou da difícil resistência aos contatos culturais, logo tão bem entrevistas na admirável Carta de Caminha. Com agudeza e penetração, ele espreita e anota as singularidades e semelhanças da terra e da gente: o louvor pela terra, de muito bons ares, "assim frios e temperados"; o entusiasmo pela gente, "o melhor fruto que dela se pode tirar será salvá-la".
A política colonial lusitana já transparece na Carta. Um indígena e seu irmão "foram esta noite mui bem agasalhados, assim de vianda, como de cama, de colchões e lençóis, para os mais amansar". A conta que Caminha prestou ao Rei alongando-se pelo miúdo, com sua Carta, é um testemunho inigualável de primeiro contato entre indígenas e europeus e da força e capacidade portuguesa de impor aos povos primitivos o estilo europeu por processos de dissolução e amansamento. Ferdinand Denis escreveu que "graças ao raro talento de observação de que era dotado Caminha, graças sobretudo à fácil ingenuidade do seu estilo, o Brasil teve um historiador no próprio dia do seu descobrimento".
A Carta é uma história por uma testemunha ocular, um participante que não se incompatibiliza com a objetividade histórica e que ilumina a obscuridade inicial. É pena que se não possa conhecer a emoção, os sentimentos e a vida inicial daqueles dois grumetes fugidos e dos dois degredados deixados chorando entre os índios, para lhes aprender a língua, ensinar a fé e domesticá-los. Esta página branca da História do Brasil impede-nos um conhecimento precioso.
AUTENTICIDADE DA CARTA
Em 1897, um historiador argentino, Luiz F. Domingues ("Primeros Descubrimientos en el Nuevo Mundo", La Biblioteca, julho, 1897, 7593), levantou suspeitas sobre a autenticidade da Carta. Eram dúvidas que Capistrano de Abreu chamou de aéreas e respondeu magnificamente em seu estudo O Descobrimento do Brasil (Rio de Janeiro, ed. da Sociedade Capistrano de Abreu, 1929, 304-306). O documento original existia e não podia haver qualquer desconfiança quanto aos elementos extrínsecos, letra e papel do tempo. A arguição principal de Domingues fundava-se em que a carta continha informações a respeito dos índios que não teria sido possível colher em tão poucos dias. Capistrano redarguiu acertadamente