Lamego, "Quem foi o comandante do navio que levou ao Rei de Portugal a notícia do descobrimento do Brasil", Jornal do Commercio, 8 de junho de 1941). Atingido o Cabo de S. Roque, navegaram para o sul, até S. Vicente. (Varnhagen, História Geral, vol. 1, 93-94). Há, ainda, uma suposta terceira viagem ou quarta, segundo Varnhagen, que teria partido de Lisboa, em meados de 1503, e nela, sob o comando de Gonçalo Coelho (Varnhagen, História Geral, t. 1, 96-97), Vespúcio teria alcançado Cabo Frio, onde fundara uma feitoria. Como critica Magnaghi, não há documento algum que prove esta viagem e os historiadores portugueses e brasileiros baseiam-se sempre na Carta a Soderini, que ficou provado não ser autêntica. (Magnaghi, ob. cit, vol. 2, 227 e 234.)
3. A Relação do Piloto Anônimo
Afora os documentos de Caminha e Vespúcio, fazem parte desta literatura de viagem, desta pré-historiografia, a Relação do Piloto Anônimo e algumas outras cartas da época.
A Relação do Piloto Anônimo é um documento fiel, muito inferior à Carta de Caminha. Suas observações sobre a terra, a gente e os seus costumes são apressadas e rápidas. Declara que ninguém entendia a língua, o que não impediu Caminha de fazer e anotar uma infinita variedade de observações. Não sabiam que gente era essa, que os imitava, como na missa, que negociou arcos e flexas por guizos e folhas de papel, pedaços de pano ou papagaios e mandioca. Eram pardos, os homens com a pele raspada, e as mulheres com os cabelos longos. A terra era grande, abundante de árvores, com boa água, mandioca e algodão. Não havia animais. O ar era bom, os homens tinham redes e eram grandes pescadores. Foram deixados dois homens degredados que começaram a chorar quando a esquadra iniciou a partida e foram consolados pelos homens da terra.
A carta que Giovanni Matteo Cretico escreveu aos 27 de julho de 1501 de Lisboa para Veneza, tratando da descoberta da nova terra, pela primeira vez chamada de terra de papagaios(12), Nota do Autor é, como a Relação do Piloto Anônimo, muito inferior à Carta de Caminha.
O TEXTO E AS EDIÇÕES
Existem quatro manuscritos da Relação do Piloto Anônimo. Um deles, com as cartas de Angelo Trevisan, encontra-se na Sneyd Collection, em Newcastle-on-Tyne. Dois outros manuscritos reunidos num mesmo códice e conhecidos como Contarini A e B, e outro em forma condensada, encontram-se na Biblioteca Marciana. De todos os manuscritos, o Sneyd parece ser o mais velho. A primeira edição da Relação foi publicada nos Paesi nouamente retrouati et Novo Mondo da Alberico Vesputio Florentino intitulato, 1507. Existe uma excelente reprodução fac-similar feita pela Princeton University Press, 1916. Boa edição, confrontada com os originais, é a de William Brooks Greenlee, ob. cit, 53-94. A primeira tradução portuguesa, ("Relação anônima de um piloto português da esquadra de Cabral"), foi publicada na CNHGNU, t. 2 e 3, 107-139, e não merece confiança, pois é baseada na retradução de G. B.