anos mais tarde com Anthony Knivet. Seu livrinho conta tudo o que conheceu e viu, mas especialmente o cativeiro, e, como dele se salvara pela proteção de Deus, decidira tornar público seu louvor e agradecimento. A relação do cativeiro é também a descrição dos povos indígenas.
Deste modo, a obra de Hans Staden tem sido mais apreciada pelos etnólogos e tupinólogos do que pelos historiadores. Ele trata de tão diferentes aspectos da cultura tupinambá que seu livro já assume o caráter de uma monografia tribal. Refere-se também a várias outras tribos(30). Nota do Autor Mas é preciso considerar que ela é também um documento valioso para a história das relações e dos contatos culturais dos povos europeus com os indígenas e da história do comércio do pau-brasil. Quando, por exemplo, o francês que recomendara aos índios que o comessem volta a Ubatuba e promete ajudá-lo, ao verificar que ele não era português, diz que estes "eram celerados tão nefandos que os franceses enforcavam todo aquele que conseguiam apanhar na província do Brasil". E acrescentou que deviam os franceses adaptar-se aos selvagens, tinham que admitir o modo pelo qual tratavam os seus contrários, pois eram os franceses também os inimigos jurados dos portugueses(31). Nota do Autor
Os conflitos entre os dois povos no Brasil e seus aliados indígenas rebentaram por toda a costa, numa disputa feroz de caráter econômico. A Relação de Hans Staden é um testemunho precioso destas invasões dos entrelopos franceses nos domínios ultramarinos portugueses. Como acentuou Varnhagen, ela nos dá uma clara ideia da frequência com que visitavam os navios franceses estas paragens, principalmente o Rio de Janeiro(32). Nota do Autor
AS EDIÇÕES
A obra de Hans Staden teve um sucesso incomum. Suas aventuras e peregrinações, o caráter romanesco e legendário, a audácia e coragem do personagem, a revelação da gente bárbara, nova para o europeu, atraiu a atenção de um público cada vez mais numeroso. Desde a primeira edição, em 1557 até a edição brasileira de 1942, foram feitas várias versões em diferentes idiomas, reproduzindo as excelentes xilogravuras da primeira edição(33). Nota do Autor A primeira tradução portuguesa foi feita por T. A. Araripe da tradução francesa de Ternaux Compans (Paris, 1837). É uma tradução de tradução, sem notas e em ortografia própria do tradutor. A segunda, promovida pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, foi feita por Alberto Löfgren(34) Nota do Autor da segunda edição de Marburgo e com excelentes notas de Teodoro Sampaio. Monteiro Lobato fez a tradução em texto livre da primeira parte (São Paulo, 1925, 1926 e 1927). A melhor edição brasileira é a da Sociedade Hans Staden, segundo a transcrição em alemão moderno de Karl Fouquet (São Paulo, 1941, nº 3 das Publicações da Sociedade Hans Staden), e em português por Guiomar de Carvalho Franco, com introdução e notas de Francisco de Assis Carvalho Franco.